Pe. David Francisquini (*)
Agência Boa Imprensa - Diante da possibilidade de legalização do aborto para
fetos anencéfalos, percebe-se o embuste que lesa a dignidade e a honra da
pessoa humana. Posto o processo de fecundação, não se pode provocar uma
interrupção direta e voluntária de uma vida humana, porque isso contraria a
ordem estabelecida por Deus na natureza. Além de inconstitucional, é pecado
de malícia peculiar que clama aos Céus por vingança.
Caso persista tal obstinação abortista, não podemos descartar que a justiça
divina se faça sentir no Brasil. Não bastassem as muitas leis iníquas já
aprovadas pelo Congresso, recrudesce agora tentativa da introdução do
aborto. A voz de tantos seres humanos, silenciadas ainda em botão, estarão a
bradar ante Deus por castigos.
Deus disse a Caim, que matou seu irmão Abel: "Que é que fizeste? A voz do
sangue de teu irmão clama desde a Terra até a Mim. Agora, pois, serás
maldito sobre a Terra... quando tu a tiveres cultivado, ela não te dará os
seus frutos: tu andarás como errante fugitivo sobre a Terra" (Gen. IV, 10).
O que pensar de um tribunal decidindo a sorte de incontáveis vidas de
nascituros? Faz-me lembrar Nosso Senhor Jesus Cristo sendo julgado pelo
magistrado romano, ou ainda as figuras sinistras de Hitler e Stalin, dos
regimes nazista e comunista, matando com requintes de crueldade milhões de
pessoas.
A tentativa de revogar o quinto Mandamento da Lei de Deus e a própria Lei
natural corresponde a uma revolta contra Aquele que o instituiu, e que criou
a natureza humana.
Minha alma de sacerdote católico, apostólico, romano vê com tristeza o fato
de o Episcopado nacional não estar dando a devida atenção a tão grave
ofensiva à ordem criada. Sua preocupação preponderante refere-se à questão
social, a propósito da qual - diga-se de passagem - enfoca o mais das vezes
de modo equivocado a doutrina social tradicional dos Sumos Pontífices,
causando essa atitude perplexidades em muitos fiéis.
O aborto direto e voluntário constitui pecado friamente premeditado, que
revolta o senso moral do homem, e consiste em crime de homicídio. A Igreja
católica pune com pena de excomunhão quem o pratica ou participa diretamente
de sua execução. Mesmo que o pretexto para executar um aborto seja a
anencefalia do nascituro, pois contraria a doutrina milenar da Santa Igreja:
Deus, ao criar o homem à sua imagem e semelhança, concedeu-lhe um fim
supremo e eterno; e somente Ele tem o direito de tirar a vida de sua
criatura.
Ao ser gerada uma vida humana, debilitada ou com defeitos, não se pode negar
que ela tenha alma imortal, concebida no pecado original e que deve receber
o batismo, meio absolutamente necessário para se salvar, pois assim se
exprimiu o próprio Nosso Senhor: "Quem não renascer na água e no Espírito
Santo, não poderá entrar no reino dos Céus".
Cabe lembrar que as relações de cada alma com Deus constituem um mistério
que paira acima do desenvolvimento mais ou menos perfeito de sua
sensibilidade, e mesmo de sua inteligência. Tais relações começam, quando a
criança está sendo formada no seio materno.
Em meu múnus sacerdotal, já deparei com casos de mães que enfrentaram toda a
pressão que se costuma exercer sobre elas em caso da anencefalia ou de outro
defeito físico do nascituro; e deram à luz crianças cujo batismo eu mesmo
administrei. Houve até um caso em que foi diagnosticada anencefalia, mas
que, na realidade, não o era. A criança nasceu, recebeu o batismo e está
viva até hoje. Quantos casos como este não haverá por este Brasil afora? Os
defeitos físicos são muitas vezes decorrências do pecado original e, apesar
do batismo apagá-lo, não elimina da natureza humana suas conseqüências.
Devemos saber suportá-los com verdadeira resignação cristã.
Compreende-se, em vista disso, a tristeza e a dor com que Nossa Senhora
apareceu em Fátima, lamentando os pecados e crimes cometidos pelos homens e
mostrando Seu Coração cercado de espinhos, nele cravados sem dó nem piedade
pelos homens ímpios.
Confiemos na Virgem Santíssima e no triunfo de Seu Imaculado Coração.
(*) Sacerdote da igreja do Imaculado Coração de Maria - Cardoso Moreira (RJ)
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Aborto de anencéfalicos: violação da Lei de Deus e da Lei natural
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