quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Sem dó nem piedade
Pe. David Francisquini - Diretor e Conselheiro do Brasil Pela Vida
Diante da possibilidade de legalização do aborto para fetos anencéfalos, percebe-se o embuste que lesa a dignidade e a honra da pessoa humana. Posto o processo de fecundação, não se pode provocar uma interrupção direta e voluntária de uma vida humana, porque isso contraria a ordem estabelecida por Deus na natureza. Além de inconstitucional, é pecado de malícia peculiar que clama aos Céus por vingança.
Caso persista tal obstinação abortista, não podemos descartar que a justiça divina se faça sentir no Brasil. Não bastassem as muitas leis iníquas já aprovadas pelo Congresso, vem agora tentativa de introdução do aborto. A voz de tantas vidas, ceifadas ainda em botão, estarão a bradar por castigos. Deus disse a Caim, que matou seu irmão Abel: “Que é que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama desde a Terra até a Mim. Agora, pois, serás maldito sobre a Terra... quando tu a tiveres cultivado, ela não te dará os seus frutos: tu andarás como errante fugitivo sobre a terra” (Gen. Cap IV, 10).
O que pensar de um tribunal decidindo a sorte de incontáveis vidas de crianças? Faz-me lembrar Nosso Senhor sendo julgado pelo magistrado romano ou, no outro extremo, as figuras sinistras de Hitler e Stalin, com o nazismo e o comunismo, matando com requinte de crueldade, milhões de pessoas.
A tentativa de revogar o V Mandamento da Lei de Deus corresponde a uma revolta contra Aquele que o instituiu, bem como contra a criatura que se encontra no centro da criação: o homem, feito à imagem e semelhança de Deus. Minha alma de sacerdote católico, apostólico, romano vê com tristeza o fato de o Episcopado nacional não vir dando a devida atenção a uma tão grave ofensiva contra Deus, preocupado que está quase que exclusivamente com a questão social, a propósito da qual – diga-se de passagem – enfoca o mais das vezes de modo equivocado a doutrina social tradicional dos Sumos Pontífices, deixando perplexos muitos fiéis.
O aborto direto e voluntário é pecado friamente premeditado que revolta o senso moral do homem, e constitui crime de homicídio. A Igreja o pune com pena de excomunhão para quem o pratica ou participa diretamente de sua execução. Mesmo que o pretexto para executar um aborto seja apenas nos casos de anencefalia, pois contraria a doutrina milenar da Igreja ao ensinar que Deus ao criar o homem tem um fim supremo e eterno.
Ao ser gerada uma vida humana, debilitada ou com defeitos, não se pode negar que ela tenha uma alma imortal, concebida no pecado original e que deve receber o batismo, meio absolutamente necessário para se salvar, pois assim se exprimiu o próprio Nosso Senhor: “Quem não renascer na água e no Espírito Santo, não poderá entrar no reino dos Céus”.
Tanto mais que as relações de cada alma com Deus constituem um mistério que paira acima do desenvolvimento mais ou menos perfeito de sua sensibilidade, e mesmo de sua inteligência. Tais relações começam quando a criança está sendo formada no seio materno.
Em meu múnus sacerdotal, já me deparei com casos de mães que enfrentaram toda a pressão que se costuma fazer em torno da anencefalia ou de outro defeito físico e deram à luz crianças cujo batismo eu mesmo administrei. Houve até um caso em que diagnosticaram anencefalia, e na realidade não era. A criança nasceu, recebeu o batismo e está viva até hoje. Quantos casos como este não haverá por este Brasil afora?
Os defeitos físicos são muitas vezes decorrências do pecado original e, apesar do batismo apagá-lo, não tira da natureza humana suas conseqüências. Devemos saber suportá-los com verdadeira resignação cristã.
Por isto se compreende a tristeza e a dor com que Nossa Senhora apareceu em Fátima, apontando todos estes pecados e crimes que se cometem e mostrando Seu Coração cercado de espinhos que os homens ímpios cravam sem dó nem piedade. Confiemos na Virgem Santíssima e no triunfo de Seu Imaculado Coração.
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